Pela 1ª vez, USP tem a maioria dos ingressantes vindo da rede pública

O perfil dos novos alunos da USP (Universidade de São Paulo) este ano é histórico e traz à tona uma discussão relevante para a educação brasileira: a política de reserva de vagas nas instituições públicas.

Em 2021, 10.992 vagas foram preenchidas na USP e 5.678 são alunos que vieram de escolas públicas, 51,7% do total. É o maior percentual atingido pela universidade desde 1995, quando a instituição passou a registrar o perfil dos ingressantes.

O reitor da USP, professor Vahan Agopyan, avalia que “essa inclusão tem sido extremamente significativa para a universidade se enriquecer mais e interagir ainda mais com a sociedade. Essa é uma tarefa muito importante: dar oportunidade a esses jovens, que são muito talentosos.”

Das 10.992 vagas preenchidas, 51,7% foram ocupadas pelos alunos que estudaram na rede pública. Há mais de dez anos, o índice geral ficava em cerca de 25%, sendo bem menor nos cursos mais concorridos. Apesar disso, chegar aos mais pobres ainda é um desafio: a renda média da maioria dos ingressantes continua acima de 5 salários mínimos e menos de um terço do total dos estudantes é preto, pardo e indígena.

📷 Pela 1ª vez, USP tem a maioria dos ingressantes vindo da rede pública | CNN Brasil

O especialista em políticas de acesso e permanência da Universidade Federal do ABC (UFABC), Wilson Mesquita de Almeida, avalia positivamente o avanço dos últimos 15 anos para a inclusão de pessoas de baixa renda no ensino superior, mas aponta a necessidade de maior atenção com o corte de renda familiar. Para ele, há um reforço do perfil de classe média, que historicamente entra na universidade pública.

Para ampliar o alcance, segundo ele, ainda é necessário combinar políticas estruturais, como maior investimento na escola pública no professor, e democratizar o acesso à informação aos estudantes. Na pandemia, lembra, a desigualdade de aprendizado deve ser ainda maior. Entre todos os ingressantes, 25% têm renda familiar acima de 10 salários. Na outra ponta, quase um terço (29,7%) dos discentes dispõe de até três.

Mesmo assim, o pró-reitor de Graduação da USP, Edmund Chada Baracat, diz que a implementação da reserva de vagas na USP tem mudado o perfil dos estudantes na instituição, tornando-a mais diversa social, cultural e economicamente. “Esse processo, no entanto, deve ser contínuo e constantemente avaliado. Nas universidades federais, pelo fato de a reserva já ter sido implementada há quase dez anos, o processo está mais adiantado.”

“É muito louvável que a USP tenha chegado a mais de 50% de alunos aprovados serem oriundos da rede pública do Brasil. No entanto, nossa comunidade ficará mais feliz quando esses 50% tiverem dentro da renda de no máximo 1,5 salário mínimo”, diz Frei David Santos, diretor executivo da Educafro Brasil, que luta há décadas por mais inclusão na USP.

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Fonte: Exame, CNN Brasil.

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