‘É a mesma forma que tratam a gente na comunidade’, diz homem que ficou sob a mira de fuzil da PM em ato contra violência no Rio.

Com um fuzil da PM apontado para a cabeça num protesto contra a violência policial no Rio no último domingo (31), Jorge Hudson Alves da Silva, de 27 anos, pensou na família.

Desempregado, o morador do Morro Santo Amaro, na Zona Sul do Rio, faz “bico” como entregador de aplicativos. Ele faz as entregas a pé desde que sua bicicleta foi roubada no bairro do Catete, a poucos metros da delegacia para aonde foi levado após a manifestação.

“Eu senti medo, muito medo. Medo de deixar minha família desamparada”, diz ele, que é casado há cinco anos e pai de uma menina de três.”

Os policiais dizem que ele atirou pedras numa viatura. O entregador nega. As imagens da abordagem ao fim do protesto pacífico mostram o jovem com as mãos para cima e os bolsos vazios. A confusão ocorreu pouco depois do encerramento do ato.

A manifestação foi encerrada às 16h30. A GloboNews relatou que, com a chegada de manifestantes atrasados, a PM fez um cordão de isolamento com escudos. A movimentação provocou aglomeração em frente aos policiais, que dispersaram usando armas não letais.

“A gente sempre vê as mesmas coisas: preto e favelado abordado dessa forma. É a mesma forma que tratam a gente na comunidade. Agora as pessoas estão vendo o que eu vejo há 27 anos. Viram 1% da truculência que a gente sofre, é complicado”, disse o entregador.

📷 Jorge Hudson Alves da Silva | O Globo

‘Se não for protestar, vou aceitar isso calado’

A manifestação “Vidas negras importam” foi convocada pelas redes sociais, após mortes de inocentes em favelas, como a do menino João Pedro, de 14 anos, em São Gonçalo.

O lema foi traduzido do inglês, em meio a protestos nos Estados Unidos, onde a morte de um segurança negro por um policial branco foi o estopim para uma série de revoltas de cunho antirrascista.

“As morte nas favelas, eu não aguento mais. Lá (nos Estados Unidos) foi um caso, tipo assim, que vai acontecer agora, mas que vão tomar as providências. Aqui não são tomadas. Setenta tiros numa casa, 80 tiros num músico. Não vou esperar uma bala atingir minha filha na comunidade. Se eu não for protestar, vou aceitar isso calado”, justifica.

Jorge Hudson se refere aos casos de João Pedro e do músico Evaldo dos Santos Rosa, que teve o carro da família confundido com o de criminosos e foi metralhado.

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Fonte: G1

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