A dura saga do professor que arrisca tudo para levar educação a alunos indígenas em RR

Somente no dia 10 de maio de 2017, foi sancionada a Lei nº 1.180/17 que celebra o Dia Estadual dos Professores Indígenas, comemorado no dia 28 de julho em Roraima, em homenagem à data de nascimento da professora macuxi Natalina da Silva Messias, que morreu em 2015, aos 57 anos. O reconhecimento pelos esforços de diferentes povos nativos espalhados por várias regiões brasileiras ainda caminha a passos curtos, o que reflete nas condições ainda precárias que várias comunidades precisam enfrentar em pleno 2020. 

A psicóloga e professora Glycya Ribeiro aproveitou a data comemorativa no final de julho para mostrar a realidade da comunidade Matiri na região Raposa, município de Normandia, em Roraima. Em uma foto tirada em 25 de junho, o professor macuxi e gestor de escola indígena Telmo Ribeiro, pai de Glycya, aparece caminhando em um igarapé com água até o pescoço após uma dura saga de mais de 30 quilômetros para imprimir atividades para alunos indígenas.

“Todos os anos enfrenta barreiras assim por seus alunos, e, neste em específico, também uma pandemia”, disse a professora na legenda da publicação, utilizada com o intuito de abrir os olhos das pessoas. “Será que quando você fala: ‘TO DANDO VISIBILIDADE PRA QUEM TÁ NA ALDEIA’ você realmente está fazendo? Cadê as fotos e manchetes dos heróis do dia a dia?”, continua, também questionando as doações online e outras medidas que, no final das contas, talvez só sirvam para inflar o ego daqueles que acreditam fielmente que estão contribuindo para um mundo melhor ao “fazer sua parte”. 

“E sociedade, não podemos nos limitar à doações online, muitas vezes nem é isso que precisamos. Precisamos de apoio do estado, precisamos de transportes aéreos ou fluviais que nos ajudem a atravessar estradas assim em épocas de chuva por ex. Precisamos que você cobre as autoridades junto conosco, que você realmente chegue junto e diga: eu tô aqui. Sem medo de retaliação”, disse Glycya, expondo a precária situação enfrentada pelos povos indígenas em relação a saúde, educação, segurança e até da demarcação de territórios. 

📷 Comunidade Matri | G1

A escola que recebe o material sofrido de Telmo e mais cinco professores que o auxiliam na saga para impressão das atividades atende estudantes indígenas de outras três regiões dentro da reserva Raposa Serra do Sol. Telmo caminha, pedala, pilota uma moto e atravessa igarapés cheios e estradas inundadas, sem nenhum barco à disposição. 

O professor, formado em Comunicação e Arte pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), não mede esforços para levar educação a crianças e adolescentes do 6º ao 9º ano, enquanto uma grande parcela da população brasileira amanhece apontando inúmeros defeitos de suas instituições particulares e problemas nas plataformas de Educação a Distância (EaD). 

É preciso entender as disparidades e as injustiças que acontecem de forma oculta aos nossos olhos. Afinal, essas comunidades estão espalhadas pelo país, e sequer têm chance de entregar educação às crianças com dignidade e segurança. Determinados, eles farão o que for preciso para proteger seus povos, custe o que custar.

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Fonte: Diário24h

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